Hoje, aqui em minha cidade,
aconteceu uma grande demonstração do poder que emana do povo, e que é para o
povo. Tentar quantificar os participantes seria mera e desnecessária
especulação de minha parte, e da parte de qualquer estatístico. Contudo, tomo a
liberdade de escrever a seguinte afirmação: todos se uniram em uma única
qualificação – a de cidadãos e cidadãs que já não conseguem viver em paz em
meio às expressões de um mundo hodiernamente permeado por múltiplas, e ao mesmo
tempo singulares, formas de nascer, sobreviver, e mais cedo do que o esperado,
expressar-se pela última vez.
Sem sombra de
dúvidas, foi um movimento de extrema relevância, principalmente por reafirmar a
ideia de que tudo nasce, cresce ou não, e se resolve pela força ou fraqueza de
um povo; e que todos os povos têm a faculdade de cultivar o físico ou o
interior de suas potencialidades.
Não escrevo
este texto para que ele se contenha aos limites do nosso território, mas para
que, de repente, o maior número possível de seres que se reconhecem como
humanos, possam conhecê-lo, e tenham talvez, a curiosidade de refletir um pouco
mais.
Desta feita...
Sou de um
mundo no qual peças equivalentes se dividem em agrupamentos distintos; no qual
por algum motivo, que nunca consegui entender, os rótulos valem mais que o
interior dos indivíduos. Neste mundo de espaços, alguns ocupam mais que o
necessário, enquanto outros... Ou se contentam com a desgraça da “terra
infértil”, ou precisam aprender voar pra não pousar na “faixa de nada” que
deveria lhes pertencer. O meu mundo é de
clandestinos. De aproveitadores, escravizadores. De “foras da lei”. No meu
mundo, meninos ladrões de queijo, no discurso da chamada “boa sociedade”,
merecem apedrejamento. Pena de morte. Mas as ratazanas que deixam o queijo de
lado para adquirir carga roubada, sonegar impostos, e outras coisinhas mais,
ah... Estes pousam de bons senhores. Vão às missas e cultos dominicais; podem
contribuir com as obras do “senhor” – que não é Nosso Senhor Jesus Cristo, e
por isso não grafei com letra maiúscula – e o meu mundo os reconhece como Seus
Fulanos de Tais.
Desejo muita
paz para todos...
Desejo que
todos possam de fato, gozar do direito à propriedade... E os que não têm
nada...? Um fatalista certamente dirá: trabalhe pra ter. Vou preferir não falar
sobre isso agora.
Desejo a
segurança de poder sair e chegar em casa como nos velhos tempos – dizeres os
anciões – não só para mim, mas para todos...
Mas
o meu desejo mais profundo, é que os homens e mulheres que caminham pelas ruas deste
mundo na busca por uma sociedade mais pacífica e justa, descubram o quanto
antes, que a paz e a justiça mora dentro de cada um, e que todos, em suas ações
cotidianas – por mais elementares que possam parecer à primeira vista – podem
semeá-las pelos verdes campos de ervas daninhas.
Agora pare e pense um pouco...
Você sinceramente se reconhece
como um semeador de paz e de justiça?
José Ivan Ribeiro dos Santos Filho
Poço Verde - SE, 24 de agosto de 2012.